segunda-feira, 29 de outubro de 2012

DJs DO COLETIVO



Ônibus lotado. Sexta-feira. Calor de 39 em dia de primavera. Rostos cansados de um fim de tarde. Variadas fragrâncias de suor.
Estou ansiosa para chegar em casa depois de um exaustivo dia de trabalho. O sono intenso atrapalha minha leitura. É nessa hora em que, no coletivo, adentram dois rapazes com suas bermudas quase calças, suas camisetas quase vestidos e correntes douradas que serviriam muito bem pra fechar meu portão junto de um cadeado médio.
Despertei!
Eles pararam em pé bem ao meu lado. Continuei com os olhos cravados no livro, mas a concentração já havia se perdido em quilômetros anteriores do meu trajeto intermunicipal.
Minha atenção se volta aos movimentos dos jovens. Guardo minha leitura. Cada um retira do bolso um aparelho celular (última geração, claro), selecionam a música da preferência e colocam todos do ônibus para curtir. Um rap, do qual não se entendia uma palavra, e um funk, igual a todos os outros. No último volume, os ritmos se associam e se misturam ao som da rádio FM escolhida pelo motorista, às gargalhadas de alguns passageiros e ao silêncio de outros.
Ao redor, percebo pessoas incomodadas. Umas comentam, outras xingam, enquanto eles, felizes, cantam, parecendo fazerem parte de um universo particular.
Ao meu lado, uma moça pensa alto:
- É brincadeira!
Em poucos segundos, obviamente tomada por uma grande revolta, ela extrai da bolsa seu aparelho celular e escolhe, também, a música de sua preferência: um axé. Aumenta o volume e ri alto, vingativa. Contida, ainda balança os ombros ao som do swing baiano.
Permaneço observando a cena. Pauso para reflexão.
 
Facilmente, aquele espetáculo configuraria um episódio de qualquer programa de humor.
Tive a certeza de que a popularização e modernização dos aparelhinhos de comunicação retiraram de muitos a noção de etiqueta. Se é que sabem o que é isso...
Bom senso? O que é isso mesmo? Não... Não sabem o que é. Ou, duas últimas possibilidades: não foram apresentados aos fones de ouvido ou ainda não tiveram dinheiro para adquiri-los.
 
A essa altura, o coletivo fervia. Eu, disfarçadamente, ria. Afinal, eu estava diante de Djs, sem pagar nada. Meu estresse não resolveria aquela comicidade. Preferi ser feliz, esperar a hora de puxar a cordinha para descer no meu ponto e, claro, compartilhar minha impressão.

5 comentários:

  1. Ah, conheço muitos desse tipo aí. É uma tremenda falta de respeito. Eles são egoístas demais.
    Legal a crônica. To te seguindo...
    Bj

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  2. Olá,
    Passo, com calma, bem antes da data, para desejar-lhe, com carinho fraterno, que vc tenha Boas Festas neste fim de ano!!!
    "A felicidade é com a gota de orvalho numa pétala de flor, brilha tranquila, depois que leve oscila e cai como a lágrima de amor".
    Que vc seja muito feliz!!!
    Abraços fraternos de Boas festas

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  3. Hum, que ridículo a interpretação que o autor(a) fez no começo, então quer dizer que se uma pessoa usar calças correntes de ouro em volta do pescoço eles tende em si escutar funk ou um rap, senti um meio de preconceito no começo do texto mesmo ele tendo um desfecho impressionante.

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  4. Oi, Anônimo (a)! Que bom que você voltou!
    Fico feliz que tenha lido o texto. Volte mais vezes!
    Boa resto de semana!

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  5. Muuuuito boa a crônica, Lucimara!
    Anônimo, quem faz a interpretação é o leitor e não o autor... kkkk
    O autor joga o texto aqui e a gente interpreta como quer.
    Bom voltar aqui! Tava meio sumida, mas agora estou voltando.
    Quero fazer um blog também...
    Bom 2013! E não pare de escrever, você me diverte muito.
    Bj

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