quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Hoje me deu uma saudade... E eu voltei pra cá

Este foi o primeiro espaço em que comecei a partilhar meus escritos.

Hoje me deu uma saudade... E eu voltei pra cá.

Há quase 5 anos não postava um texto aqui. Quando eu comecei a escrever neste blog, às sextas-feiras, eu tinha uma disciplina diferente da que tenho hoje. E, por algum motivo, deixei isso se perder...

Por quê?

É curioso como, com o passar do tempo, muitas das coisas que nos fazem bem acabam ficando para trás. Às vezes, sem perceber, vamos deixando de lado hábitos que, durante algum período da nossa vida, nos enchiam de significado e alegria. O que mudou tanto? O tempo ficou mais curto ou as prioridades se transformaram?

Talvez seja a nossa louca e exigente rotina, talvez a sensação de que há sempre algo mais importante ou urgente para se fazer. Mas será que aquilo que nos faz bem tem mesmo que ficar pra depois?

A vida é muito breve, e dentro dessa efemeridade, deveríamos nos permitir resgatar sempre em nós aquilo que nos fez e que faz nos bem.

Escrever me faz bem. Compartilhar pensamentos me faz bem. Não escrevo para convencer alguém ou para me impor, mas para encontrar refúgio nas minhas próprias palavras. Quando escrevo, eu me volto pra o meu eu, deixo um pouquinho de mim no tempo e dou forma, entonação e sentido àquilo que sou. 


quinta-feira, 2 de abril de 2020

A ESCOLA EM TEMPOS DE PANDEMIA

Pare! Especialmente se você é aluno, mãe, pai ou responsável por algum aluno.

Você levará menos de 3 minutos pra assistir ao vídeo e fazer a leitura.
Ao longo da nossa vida, enfrentamos muitas, muitas adversidades... Isso acontece no trabalho, na vida pessoal, na vida profissional, e, muitas vezes, não estamos preparados para isso. É necessário, então, nos adaptarmos.
São experiências que nos tiram o chão, nos deprimem, nos deixam tristes, alimentam infinitos medos e ansiedade. São as tempestades, os ventos contrários se estabelecendo em nossas vidas, com os quais, mesmo sem recursos ou experiências, temos que aprender a lidar. Afinal, ‘velejar não é somente sobre o vento, mas sobre o velejador. Relação única esta.’
O(s) velejador(es) precisa(m) fazer do forte vento seu parceiro, e seu sucesso depende da maneira como ajustará as velas.
Bem... Há algumas semanas estamos enfrentando uma tempestade, com ventos e trovões, que veio sem nos avisar e tem nos amedrontado.
Reclamar, julgar, insultar uns aos outros nesse momento, portanto, não vai mudar nossa situação, não irá acabar com essa tormenta; muito pelo contrário, isso vai deixar nosso percurso mais penoso e doloroso. Estamos todos juntos sob o mesmo temporal e, por incrível que pareça, exatamente na mesma navegação, sofrendo do mesmo jeito, apavorados e tristes na mesma intensidade.
E o que essa relação tem a ver com a escola? O que cabe a nós, enquanto educadores, queridos pais e alunos?
Saber que, estando na mesma tripulação, podemos contar com vocês para redirecionar nosso barco. A hora é de nos unirmos e assumirmos nosso protagonismo, ajustando nossas velas, sendo apoio uns para os outros e recalculando nossa rota, pois nossa jornada é a mesma e precisaremos chegar, ao nosso destino, sãos, salvos e felizes.
Ou seja, queremos ter sucesso no ano letivo de 2020, ainda que estejamos atravessando esse período difícil. Para isso, precisamos de vocês do nosso lado, que estejam a bordo conosco unindo as forças no ajuste das velas - no comprometimento com seus filhos, na orientação, no diálogo construtivo com a escola.
O vento forte está diante de nós. Não podemos mudá-lo, mas temos a capacidade de harmonizar nossas velas pra irmos até além dos nossos objetivos. Para isso, mais uma vez, carecemos de força conjunta.
Pensem nisso! Mais que empatia, o momento agora é de compaixão.
A ventania ainda não passou. Talvez demore a passar. Deus queira que não.
Por enquanto, continuamos, então, o trabalho de controle de direção da nossa embarcação. Viajemos, desta forma, um pouco pra fora do nosso próprio ‘eu’, fazendo um esforço para enxergar a situação a partir do ponto de vista do outro.
Assim, juntos, podemos nos salvar!

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Preciso de um like aqui

Oi! Dá um like no meu texto hoje? Por favor!

Calma! Pode continuar a leitura. É só uma brincadeira.

Não sou carente de likes, até porque não tenho a barriga cheia de gominhos, não tenho corpão da Marquezine, não tiro fotos de biquíni, não indico por onde ando, ninguém precisa saber se meu carro é 0km e também não sinto vontade de clicar minha comida ou meu braço tomando soro para postar nas redes sociais.
Há quem faça questão de exibir ao mundo grande parte de sua rotina em fotos ou vídeos, e seu bem-estar está diretamente ligado ao número de curtidas que recebe nesse material. É como se a vida fosse movida a isso. Sem generalizar, óbvio. Tem muita gente sensata nas redes.
Esses dias vi uma mensagem postada por uma garota em uma das redes sociais, em que lamentava o número mínimo de curtidas em suas fotos “lindas” e criticava o número considerável de likes na página de determinada pessoa que postava até a cor do próprio cocô. Um desabafo – pobre – de inconformidade por receber, provavelmente, menos curtidas do que essa outra pessoa.
A brincadeirinha de mau gosto ganhou as curtidas de que ela tanto necessitava e comentários de pessoas que consideraram engraçado aquele momento de revolta.
Achei assustador e comecei a procurar textos que dissertassem sobre essa carência desenfreada de curtidas no ambiente virtual. Encontrei inúmeros. Percebi que há, inclusive, muitos estudos sobre o assunto no ramo da Psicologia.
Assiste-se a milhões de pessoas nessas redes tentando, o tempo todo, mostrar e provar pra todos o quanto estão bem e felizes. Querem ser notadas e comentadas. Clamam por reconhecimento, e a dita felicidade parece uma obrigação.
Mas ninguém é feliz o tempo todo. A vida real tem seus dissabores e por isso é aprendizado. E felicidade não pode ser controlada por número de seguidores, de curtidas e afins. A vida não é tão perfeita quanto aquilo que se posta, muito menos os corpos e as contas bancárias.
Além disso, ninguém precisa esfregar na cara do outro que é melhor, que é mais rico, que tem o abdômen mais definido, que tem mais amigos. Esse é o desprezível movimento “sua inveja é meu combustível”. Que mania besta essa de ostentar, de achar que pode provocar inveja só porque posta foto de carro novo (carnê está lá na estante), de uma comida diferente ou de uma viagem que pagou em 24 vezes! Felicidade ilusória isso.
Somos únicos, temos nossas singularidades, nossas qualidades, nossos defeitos, nossas alegrias e nossos problemas e, mais do que mostrar a vida inteira nas redes sociais, temos que provar é pra nós mesmos nossa evolução humana.

Vamos tratar de buscar maturidade emocional, espiritual e afetiva, gente. “Bora” correr atrás do equilíbrio interior, dar uma controlada no conteúdo dos posts. Assim é que você vai ser feliz de verdade e não sentirá mais a necessidade de mostrar ao universo aquilo que você não é.


sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Ano novo, vida nova. Será?


Não, não será talvez!
As promessas de ano novo são infindáveis. As palavras bonitas, os versinhos motivacionais, os desejos de uma vida diferente, a superstição ao vestir-se com as cores que supostamente darão sorte, a preparação para a tão esperada virada... Só que, sai ano e entra ano, as novidades não são notáveis.
Estamos no quinto dia do ano novo. Não fosse o calendário, não conseguiríamos nos orientar, afinal, as notícias não mudaram. Assaltos, assassinatos, balas perdidas, mortes de inocentes, mortes no trânsito, escândalos na política. Permanecem inabaláveis os “mimimis” nas redes sociais. As mesmas intrigas, a mesma disseminação da ignorância, as mesmas hashtags. Os mesmos reprodutores das inverdades midiáticas, a mesma necessidade de autoafirmação diante do mundo e a de ter sempre razão. A vida online em detrimento da vida offline, as mesmas agressões verbais, a mesma falta de humanidade, a mesma ansiedade pela chegada da sexta-feira. Quiçá as mesmas dores, as mesmas decepções, as mesmas lágrimas. O mesmo egoísmo, a mesma intolerância, o mesmo preconceito.
Bem... Longe de mim ser pessimista ou tecer um texto de autoajuda. Prefiro acreditar que sou realista, pois mudar do ano ímpar pro ano par – amo anos pares! – não vai fazer com que a vida mude da água pro vinho. É como querer ser bem-sucedido na vida sem trabalhar, sentado no sofá o dia todo, se empanturrando de carboidratos e assistindo Netflix. Como é que se quer ter uma vida diferente se o ser humano se recusa a evoluir como ser humano? Como é que se celebra uma vida nova se as atitudes são velhas?
Gente, para!
Olha só um exemplo simples: ontem pela manhã (04/01/18), assistindo a um telejornal matinal, vi que uma auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) constatou, nos benefícios do programa social Bolsa Família, uma fraude em aproximadamente 350 mil cadastros. De acordo com o relatório da citada Controladoria, o governo pagou indevidamente cerca de R$ 1,4 bilhão a pessoas que não tinham direito ao benefício. Quase nada, né? Ei, Brasilzão velho!
Aí eu me perguntei: investigação veio à tona de novo agora por quê, hein? Sempre houve suspeita de fraude nesses programas, mas este ano é ano de eleição. Os justiceiros querem mostrar serviço. Sério que querem que eu acredite que eles também são enganados, que não sabem desses cadastros indevidos e que muita dessa “brava gente brasileira” recebe o benefício injustamente? É tanta palhaçada que sinto vergonha alheia.
A renda per capita precisa ser de 170 reais pra se ter direito a esse tal benefício, no entanto, há famílias que recebem quase 2 mil reais por pessoa, e são cadastradas no programa. Famílias estas, algumas de funcionários públicos (muitos brasilienses, certeza), com casas próprias, com carros de luxo. Triste, não? Aí eu me questiono de novo? Pra que tirar o direito de quem realmente precisa? Pra que enganar a pátria tão amada? Não veem que o país já está na lama? Obviamente muitas dessas famílias são as que gritam nas ruas “fora, fulano”, “fora, ciclano”, as mesmas que põem textões moralistas sobre política na rede social. Ah, me poupem de tanta hipocrisia!
Que chefes de famílias são estes? Que tipo de brasileiro é este? Que exemplos são para os filhos? Claro... É a famosa história: todo mundo faz, eu também vou fazer; meu vizinho não precisa e tem direito, eu também quero ter.
Que raio de “todo mundo” é esse? Eu não faço parte desse “todo mundo”, graças a Deus! Deve ser por isso que me sinto cada vez mais deslocada nesse país. Sei que você que está lendo aí já deve ter se sentido assim em algum momento da vida.
Qual vida nova se almeja, gente? Vai chegar 2080 – se Deus quiser estarei descansando na vida eterna – e as promessas estarão sendo renovadas em vão ano a ano, caso a mudança não comece por cada um.
Bom... este não era o texto ideal para o início de um novo ano, mas tive a necessidade de externar minha aflição ao assistir, ler e ouvir, de novo, como em toda virada, a mesma frase dita da boca pra fora: “ano novo, vida nova”.
Enquanto não se tomar consciência de que são as atitudes que transformarão a vida, a promessa nunca será real. O que faz o novo não é o que vem de fora, é o que está no coração, o que sai do coração. Cada pessoa precisa reencontrar, a cada ano, sua própria humanidade. Despir-se daquilo que julga correto só pra si e enxergar um pouco além dos olhos. Lançar um olhar de amor ao próximo e agradecer sempre. É bíblico isso.


O ano é novo, sim. O tempo não para. Mas a vida nova, meus amigos... Ah, só depende de nós! Depende de uma postura nova, de um jeito novo de olhar, de um propósito novo, de atitudes novas e, claro, de uma fé mais amadurecida – não de simpatias. O ano novo vai ser melhor se puder contar com uma versão melhor de nós.
Eu vou continuar aqui tentando cultivar em mim a esperança, pois tenho fé de que ainda verei um mundo novo e vários anos com vidas renovadas de fato.

domingo, 5 de novembro de 2017

As frutas podres de cada dia

Uma fruta apodrecida, quando próxima à fruta boa, tende a estragá-la também. É um processo natural. Você, com certeza, já observou esta experiência.
Após uma breve pesquisa, constatei que, durante sua atividade metabólica, os frutos emitem um gás incolor e inodoro chamado etileno. É um agente de amadurecimento, digamos assim. Quando em contato uns com os outros, os frutos produzem mais desse hormônio, antecipando seu processo de maturação e posterior apodrecimento.
Há pessoas que se assemelham a esses frutos apodrecidos. Em um grupo, seja de amigos ou de colegas de trabalho, apresentam-se bem, sempre sorrindo, prezam pela popularidade, querem evidência. Entretanto, sua alma e mente são doentes. E é isso que vai fazê-la tentar o tempo todo afetar o bem-estar por onde passar. Sua boca exala maldade e sua impressão é constantemente ruim acerca de tudo e de todos.
Engraçado é que pessoas assim só se tornam um problema para outras pessoas porque seu amadurecimento é tardio, o oposto da fruta. Elas não podem ser contrariadas, não dominam suas carências, não conseguem lidar com conflitos da alma. Isso independe de bens materiais, de família, de realização profissional. Não há o que as complete integralmente e lhes ofereça um conforto existencial. Elas jamais estão contentes, o sorriso não é sincero e a alegria só estampa o rosto quando zombam do outro, riem do outro ou apontam defeitos no outro. Quando encontram alguém que partilha dessa nocividade elas ganham força. É aí que se tornam bactérias a se proliferarem.
A diferença é que a fruta podre está lá na fruteira. Qualquer pessoa pode constatar seu estado e jogá-la fora ou transformá-la em adubo orgânico. Já a “pessoa podre” não demonstra fisicamente que ela é nociva. Em um grupo, ela vai ficando, contaminando os membros com sua crueldade, tentando influenciar comportamentos. Depende de cada um observar como ela se porta e passar a manter distância.
Manter um afastamento da fruta podre de cada dia não nos deixa livres de críticas, mas nos torna leves e bem mais felizes.
Voltando um pouquinho a falar da fruta, eu diria que, para aproveitarmos o melhor dela, devemos consumi-la rapidamente ou, em alguns casos, colocá-la na geladeira para retardar um pouco seu amadurecimento.
Já, para extrairmos o melhor do conteúdo de uma pessoa podre, o melhor a fazer é pedir que ela se sente em um iceberg, em posição de meditação e sozinha, claro, para refletir sobre sua conduta, a fim de acelerar seu amadurecimento ou, em alguns casos, pedir que ela morra e nasça de novo.
Falando em “ser humano”, sou mais a segunda opção.


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Nossas portas estão quebradas



Diariamente faço questão de visitar o perfil de um cronista de quem gosto muito. Fabrício Carpinejar é seu nome. Sempre certeiro com suas frases inspiradas no cotidiano, hoje não foi preciso que eu o visitasse. Ao acessar uma das redes sociais, lá estava ele: “… As pessoas vêm batendo à porta com pedra, não com a palma da mão”.
Pronto! Estava ali a frase para definir pessoas e meu dia de hoje.
Há pessoas que nos apedrejam, sem ao menos nos dirigir o bom dia que a boa educação dita.
Há pessoas que não perguntam, simplesmente acusam.
Há pessoas que são tempestades e chegam arrancando a nossa paz no momento em que éramos paz ao outro também.
Há pessoas que implicam, duplicam e triplicam o problema, quando a solução estava ali, bem diante de seus olhos.
Há pessoas que são barulho e insolência, quando a necessidade é apenas silêncio e moderação.
Há pessoas que são ira, quando o mar está carente de calmaria.
Há pessoas que são desastres, quando pretendemos educar e formar para o sucesso.
Há pessoas que são indiferença, quando precisamos de misericórdia para fazermos a diferença.
Há pessoas que apresentam o ódio nos olhos sangrentos, quando o mundo e eu precisamos só de amor.

Essas são as pessoas que nos hostilizam, nos desrespeitam, nos afrontam, nos apontam, nos ferem, nos magoam, quebram a porta com as pedras e invadem nosso espaço, no sentido mais literal da palavra. E nós? Nós somos os professores… Professores que só precisam de respeito, do direito de não ter que recolher essas pedras e de não ser tratado como animal a ser conduzido pelo medo e pela truculência.

domingo, 3 de setembro de 2017

Elas querem seduzir

O que é que está acontecendo com as meninas de 11, 12 anos que estão expondo seus corpos nas redes sociais? Alguém precisa, urgentemente, alertar os pais sobre os riscos que suas filhas estão correndo.
Não, nada de comentário machista por aqui. Mulher tem que ser respeitada de qualquer forma. Mas, até que isso entre na cabeça de alguns vermes chamados de seres humanos, evitemos problemas, especialmente quando se trata de crianças.
Fico um tanto quanto assustada quando vejo essas meninas, que mal sabem interpretar um texto de um parágrafo, colocando nas redes sociais as tais frases impactantes seguidas por fotos mostrando os peitos, sustentados por um sutiã de bojo enorme, as famosas caras e bocas sensuais e as fotos de costas mostrando os quadris cobertos por shorts tamanho 14, exibindo a popa da bunda. Se a intenção é se mostrarem sexy (com essa idade eu não fazia ideia do que era isso), alguém precisa avisar os responsáveis de que elas aprenderam a ser vulgares antes de conseguirem resolver continhas de divisão com dois números na chave.
Será que essas criaturas não têm pais? A família não vê?
Nasci em época errada, não é possível. Dizem todos os dias que a geração está mudada, entretanto, não dá pra aceitar que o papel de pai e mãe tenha sofrido tanto com esse update. Com toda essa parafernália tecnológica, a geração tinha que ter mudado pra melhor, gente.
O smartphone deveria ser usado pela molecada para auxiliar nos trabalhos escolares, não pra tirar nudes ou quase-nudes e espalhá-los na rede.


A disputa por likes é tão obstinada, que ganha mais quem mostra mais o corpinho. Os menininhos ficam saltitantes, mas o contato é só ali, na rede social. Esse tipo de criança tem o desenvolvimento de suas habilidades sociais afetado. Mal se olham nos olhos, mas enchem os perfis de comentários elogiosos cheios de malícia adulta.
Alguém, não sei se a própria sociedade, impôs na mente dessas menininhas que elas seriam capazes de seduzir o universo com um decote profundo ou com a barriga ou as pernas à mostra. Ao contrário do que tencionam, esse clamor por reconhecimento e a necessidade de autoafirmação têm causado espanto para a maioria.
É muito cedo para suas filhas serem apelidadas de mulherões, pais, quanto mais mulherões vulgares. Por mais que movimentos feministas estejam na mídia, por mais que vistamos a camisa do feminismo, a sociedade ainda é muito hipócrita e machista. Até que suas filhas não saibam se defenderem, tentem protegê-las. Cuidem de seus corpos para que tenham saúde, não para que sejam expostos. Cuidem de suas roupas para que elas cresçam sabendo o que é ser chique, não vulgares. Cuidem de seu caráter, para que mais tarde a arma de sedução delas seja outra.

Por último, e o mais relevante, ensinem-as a ler e a interpretar textos, bem como resolver as continhas de divisão com dois números na chave. 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Folga alheia versus bondade alheia

Você vai ler este texto agora e vai pensar: “Nossa! Isso descreve fulano, aquele folgado!”.
Folgado é aquele ser descansado, livre de deveres.
Folgada é aquela gente exploradora, oportunista e acomodada, que gosta de gentileza em excesso.
É gente que aproveita do bom coração de outras pessoas, só pensa em si ultrapassa os limites do bom senso, testando constantemente nossa paciência.
É a falsa vítima do mundo, um ser ardiloso que traz no olhar uma tristeza fingida. Aos poucos se torna um folgado profissional, que não suporta seguir regras, sente-se mais esperto que todos e vive cobrando uma dívida do universo.
Fica tranquilo. Você não é o único que buscou esse ser aí no pensamento.
Os folgados estão em toda parte do mundo, sempre a se apoiarem em alguém, a sugar suas energias, fugindo das responsabilidades e esforços, criando desculpas e barreiras que os impedem de ser alguém independente.
Mentem bastante também. Na fala, são eloquentes, sedutores. Seus discursos são moralistas e cheio de palavras difíceis. Pagam de humildes e, para provar o quanto o mundo é injusto, vivem nas redes sociais escrevendo textões e gravando vídeos que mostram seus olhares necessitados, protestando contra algo ou alguém. As almas mais generosas ainda dão algum crédito.
Trabalhar que é bom... nada! Os braços são curtos e o coração... Ah, o coração se regozija com a bondade alheia.
Se tem alguém para fazer tudo por eles, não compensa o estresse. Pra que acordar cedo para garantir o pão de cada dia, se tem alguém pra colocar o pão lá?
Entretanto, chega um momento em que os corações moles também enrijecem e se cansam de suprir necessidades e desejos desses folgados, que têm neste ‘meio de vida’ a tônica a alimentar sua falta de vergonha. Estoques de óleo de peroba que o digam!
A hora em que a coisa aperta, eles dão uma de insanos.


Coitados! Precisam de amigos. Amigos que deem carona, bebida, cigarro e que paguem a conta no final da noite. Precisam de atenção. Atenção que deve vir acompanhada de um prato fundo de comida quentinha, suco gelado, sobremesa, louça lavada, TV e sofá para a sesta. Precisam de carinho. Carinho que vem junto de uma cama quente, uma viagem na faixa e uma grana extra.
Bem... Pessoas desse tipo são mais espertas do que se imagina. Agem de má fé e têm um planejamento, certeza. Não atacam sempre os mesmos grupos de pessoas generosas por medo de levarem nãos.
Caras-de-pau assim precisam de uma surra de realidade pra perceber que gentileza não é tirar proveito do outro. Têm que trabalhar pra saber quanto custa o pão, aí, sim, ter moral pra reclamar do mundo. Ah, e as almas atenciosas precisam ser boas, não bobas.


segunda-feira, 14 de agosto de 2017

De quem é a culpa mesmo?

Madame não educa. A mãe de um aluno de um colégio tradicional da Tijuca, no Rio, pediu que a direção proíba o pipoqueiro de trabalhar na porta da escola. É que ela proibiu o filho de comer pipoca. Mas, sempre que vê o pipoqueiro, o miúdo pede à mãe para comprar. E ela não sabe dizer não. Ah, bom! (O Globo – Rio de janeiro, 8 agosto de 2017.)

Querida madame, como tantas outras, você, com certeza, terceiriza a educação de seu lindo filho. Não sabe dizer o não, não dá a ele limites e culpa o mundo por qualquer erro em sua educação.
Como você, conheci um monte na época em que era professora – até ontem.
Você é o tipo de mãe que apoia tudo o que o seu miúdo faz, esteja ele certo ou errado. Superprotege e chama isso de amor. Acho isso é intolerável, sabia?
Fico pensando, seriamente, como deve ser aí na sua casa, onde seu filho deve mandar e desmandar, mas não sabe limpar o bumbum após o número dois.
Pra mim isso é triste. Pra você, com certeza, deve ser bonitinho. Ele tem só 8 anos.
8 anos… Tempo suficiente para ter a astúcia de mentir pra você numa segunda-feira, dizendo que está com dor, só pra perder a prova de matemática.
Você não tem a esperteza dele, tampouco conhece doença infantil. Apenas permite que ele falte, depois vai lá brigar na escola, querendo obrigar professor a aplicar a avaliação em nova data, mesmo sem apresentação de atestado médico.
Nunca entendi de onde vem essa sua arrogância. Alguém já te contou que o mundo não gira em torno de você?
Ah, não?
Pois, então, não gira! E saiba que você não é a única que trata seu filho como um bebê para passar a impressão de boa mãe.
No mês passado, em uma sala de aula de crianças de 10 anos, confisquei o aparelho celular de uma aluna. Era o último modelo de iPhone. Levei para a direção e informei o ocorrido: a aluna tirava selfies durante a aula, ignorando minha presença.
A mãe, que nunca tinha ido à escola após a matrícula, foi comunicada e apareceu lá furiosa no dia seguinte. Ela estava acompanhada da polícia.
A coordenação pediu que eu fosse prestar esclarecimento diante da acusação da aluna. Esta informou à mãe que a roubei e que só depois me arrependi e entreguei o iPhone na direção.
Incrédula, eu olhava para aquela prepotência em forma de menina. Ela ria de mim baixinho com as mãos na boca. A mãe, sobre um salto enorme, tentava me intimidar. Berrava. A polícia fazia perguntas, eu respondia calmamente.
Em poucos minutos, o caso foi resolvido. A polícia percebeu que a criança mentia e que estava ali perdendo tempo. Foi-se embora. A mãe não concordou, mas aceitou. Tentou prolongar a conversa:
– Minha filhinha não mente, diretora.
– Senhora, calma! Já foi resolvido. Apenas não permita que sua filha traga o aparelho novamente para a escola.
– Ela não me obedece! Não adianta!
Neste momento, a diretora encaminha a aluna de volta para a sala de aula.
– Tchau, mãe! Quando eu chegar em casa, não vou almoçar. Quero brigadeiro.
– Tudo bem, meu amor! A mamãe faz pra você.
Foi o momento em que pedi licença à diretora, voltei para sala onde estava. Graças a Deus já era quase o horário da saída. Todo aquele teatro causa-me náuseas só de pensar.
Hoje não voltei mais para a escola. Entreguei os pontos. Estou bem assustada com a geração que esses pais estão criando. Daqui alguns anos, verei um monte de adultos infantilizados, doutores em arrogância, incapazes de lidar com qualquer tipo de frustração.
Agora, madame, me responda: em quem você colocará a culpa quando seu filho desandar na vida?
Com certeza a culpa não será dele. Vai ser do professor, da escola, do pipoqueiro da escola, do sistema, da sociedade… Não é?


segunda-feira, 31 de julho de 2017

Os ipês

Como toda semente, suas sementes são joias. Trazem em si um segredo, uma vida, um futuro. Carregam a transformação, o crescimento, a missão.
Em solo fértil, germinam, desabrocham, revelam. Precisam de nutrição. Carecem de carinho, respeito, atenção.
Esperança de vida é agora vida. Vida que ganha forma, corpo, beleza colorida. Beleza que vem de branco, amarelo, rosa ou de roxo revestida.
Ao longe, pequenos ou robustos, posam para serem eternizados. Dificilmente passam sem serem notados.
Enchem os olhos daqueles que os avistam. Rompem o hábito dos meios urbanos e ornamentam as estradas ao bailarem ao sopro dos ventos. Conquistam.
São fortes, de lei. Exuberantes! Impõem-se.
Lentamente desenvolvem-se e, ao sorrirem ao inverno, oferecem-lhe as cores. Seus corpos são palcos, de onde caem as folhas, que, destemidas, deixam ali brilharem suas flores, prenunciando a aguardada primavera.
Assim são os ipês.
Mostram-se secos ao perderem suas folhagens, mas desvendam uma floração espetacular. É como o ser humano que, após seu tempo de resiliência e recolhido em algum período da vida, ressurge ainda mais belo e forte.

Ipês são esplêndidos por si só e, emoldurados pela imensidão azul do céu, quando floridos, harmonizam e desvendam a grandeza, copiosa beleza da Divina criação.