sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

ACORDO (NADA) ROMÂNTICO

É sempre comum jantares a dois nos últimos dias do ano. Ensejo para conversar sobre o que fizeram juntos, traçar metas para os meses seguintes, além de ser um momento de descontração, alegria.
Entra no restaurante um casal. Ela aparentando uns trinta e cinco, ele não mais que cinquentão. Acomodam-se em uma mesa próxima à nossa. Eu observo.
O celular dele toca. Atende, sorri, relaxa na cadeira. Ela coloca seus óculos e fita os olhos na tevê, a exibir a novela das oito – sempre às nove.
Quando meu parceiro e eu acabávamos de jantar, vi que ele desligava o celular. Eu, sem nada a ver com a situação, já me sentia incomodada em minha condição de mulher bem resolvida. A esposa, amásia, amiga colorida ou namorada dele já devia estar carente, além de faminta.
Resolvem fazer o pedido.
O jantar chega e um novo trrrimmmm remixado interrompe a fala dela. Eu analiso.
Ela percebe que o jantar vai ser a um mesmo, e não a dois. E o bate-papo gostoso? Este ficaria para o fim da noite caso sobrasse disposição; e saco...
Com o aparelho nas mãos, o coroa se levanta e vai até a parte externa do recinto. Lá permanece por uns dez minutos. Falando, rindo alto, e me irritando – mais a mim que a parceira dele.
Enquanto isso, a moça ceia com a companhia das cenas globais e dos garçons sorridentes que rodeavam o ambiente. Ela brinda sozinha. O quê? Talvez a vida e saúde dela. Só dela.
Eu instigava meu parceiro a observar a cena. Claro, não deixando de lançar minhas advertências:
- Se algum dia você pensar em fazer isso comigo, ao voltar, encontrará a cadeira vazia e a conta pra você pagar. Dane-se se não sobrar dinheiro pro táxi.
- Nossa, amor, você faria isso? - choraminga ao meu ouvido.
Nessa hora ele volta. Ajeita a camisa dentro das calças, suspende-as, sorri. Sorri como se nada estivesse acontecendo. Mal sabia a raiva que eu estava sentindo dele. Senta-se, mostra os dentes amarelos. Ela olha pra ele, passa a mão na cabeleira grisalha. Ele lambisca a comida, pede a sobremesa.
- Agora vai! – torci.
Não, não foi. Desta vez acho que devia ser um torpedo. Ele faz a ligação. A outra pessoa devia estar sem créditos.
Seria alguma imperdível negociação?
A essa altura, ela nem dava a mínima. Não se incomodava. Não desviava o olhar da televisão.
Anormal pra mim. Habitual pra ela, aparentemente desprovida do lado emotivo. Foi a essa conclusão a que cheguei.
Ele, um homem de tamanha insensibilidade e indelicadeza. Ela, uma mulher submissa a aceitar jantar sozinha mesmo acompanhada. E pior... Aceitar ser trocada por telefonemas fora de hora, sem fazer um escandalozinho básico de mulher.
Conveniência? Penso que sim. Um acordo! Nada romântico, por sinal.
Ela teve o jantar pago. Ele teria, no fim da noite, um sexo bem animal pra compensar o que gastou com ela.

3 comentários:

  1. Parabéns pela bela crônica!
    Muito bom seu blog... Vou visitar mais vezes, com certeza.
    Abraço

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  2. Olá, querida
    To fora desse sexo animal... Como se dizia antigamente: Cruz credo!!!

    A cumplicidade implica em gentileza.... SEMPRE!!!

    Òtimo post de alerta a ambos os sexos...
    Não somos animais irracionais...
    Bjm de paz e alegria

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  3. Lu, a situação toda é bastante explicativa, né? E você resumiu bem com: "Ela teve o jantar pago. Ele teria, no fim da noite, um sexo bem animal pra compensar o que gastou com ela".

    É típico. A mulher já com mais de 30, vive aquele desespero sem justificativa e se apega ao cara com uma situação financeira razoável e "companheirismo" suficiente para comentar com as amigas. Do outro lado, o cara aos 50 mantém as fofas por perto para ter o que precisa e não abrem mão da vida "badalada" (telefonemas no texto), colocando-as sempre em segundo plano.

    Também adoro essas análises... nota-se... rsrs

    Beijos, lindonÁH.

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