sexta-feira, 5 de agosto de 2011

MOÇA CLASSE A


Consultório médico é, indiscutivelmente, fonte de inspiração.
Sete graus às treze horas. O frio permite que a moça chegue toda pomposa com seu salto dezoito, meias fio oitenta, sobretudo preto e pashimina fina azul-esverdeada. Tudo ornando, como a avó dizia. A maquiagem é um pouco carregada, mas marca o look perua top de linha.
O boa tarde aos companheiros da sala de espera a mãe não a ensinou dar.
Acompanho atentamente cada movimento seu. Senta-se, estira o braço até a revista Caras mais próxima.
Eu a reparo novamente de alto a baixo. Dos óculos, faz uma tiara a segurar seus médios cabelos recém-chapados. Os dedos suportam as mais finas bijuterias. E as unhas carregam uma estampa que evidencia o vermelho escarlate.
Ali, todos esperam pelo doutor. Uns leem revista, outros assistem telejornal ou dormitam silenciosamente. Eu observo. Observo com detalhes a cena: delicadamente, ela destaca a página da revista que tem a foto do Kleber Bambam, vencedor do Big Brother Brasil 1.
Cuidadosamente dobra e guarda no bolso do casacão.
Gosto não se disputa, penso.
Ela é toda fina, mas não diferente dos que ali também aguardam, a não ser pela sua aparente classe e pela música escolhida para toque de seu celular.
Subitamente o baixo som da TV do consultório é interrompido.
Susto!
O sentimento de vergonha alheia toma conta de mim e dos demais pacientes.
Olhando para os lados, sem jeito, ela tenta buscar, dentro da sua Louis Vuitton, o aparelho que "esgoela": "Sou foda, na cama eu te esculacho/Na sala ou no quarto/No beco ou no caaaaaarro."Olhares se cruzam. Nem todos conseguem conter o riso.
Não sei se aquilo era sertanejo ou forró. Era feio. Ficou feio. Horrível pra uma moça daquele porte.
Sem graça, ela, amarelamente, sorri pra ninguém.
Permaneço estática, séria, vigiando seus afobados movimentos, esperando que atenda o aparelho, que, pelo ruído, devia pertencer à geração ainda nem lançada no Brasil.
- Ai, achei!... Oi, amor!
Inconformismo!
Continuei a prestar minha atenção àquele espetáculo.
- no consurtório médico. Assim que eu sair daqui te ligo, mor. Ah, não! Liga ocê por causa que eu tô sem promoção e meus crédito acabou. Saudade, meu anjo.
Não sabia se sentia pena dele - do outro lado da linha - ou raiva dela.
Cadê a classe?!
Eu estava prestes a perguntar diretamente pra ela quando a secretária me chamou.

11 comentários:

  1. Ri muito desse teu conto.Adore!

    Pior que encontramos umas bem assim e ainda por cima se "achando",rssr


    beijos,chica

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  2. Hehehehe! Que gracinha este teu conto!

    Bom fim de semana.

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  3. Lucimara muitooo bom, frequentemente encontro essas pessoas de classe A, rsrsrsrs as vezes eu tambem nao consigo conter kkk

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  4. Patrícia Corteccioni dos Reis6 de agosto de 2011 às 05:05

    Amiga... o pior é que tem muitas dessas MOÇAS CLASSE 'A'!
    Parabéns pelo texto!!!

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  5. Muito bom!

    Gostei muito do 'ornando'! rsrs

    abraços

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  6. Ai de quem pisar na bola perto de você que descreve a realidade com essa perfeição.
    Parabena!

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  7. Amigos leitores,
    Obrigada pela colaboração e incentivo. Preciso de vocês, sempre!

    Ventura,
    Obrigada por esse "descreve a realidade com essa perfeição"... rs
    Ai de quem pisar na bola mesmo. Pintou na minha mira, virou crônica, conto... rs
    Bjão!

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  8. Hoje estou passando apenas para lhe fazer um convite.
    Estou falando do www.superlinks.blog.br que é um site agregador que vale a pena visitar, pois é mais um espaço no qual você poderá publicar seus links de matérias, pois é um site sério e com critérios bem positivos.
    Espero que goste da dica.
    Um grande abraço

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  9. Olá,
    Interessante como vemos isso no dia a dia... acontece nas "melhores famílias"...
    Tenha uma abençoada semana.
    Bjs fraternos de paz

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  10. Natalie La Mour! rsrsrs

    É assim que escreve? Adorei ver texto novo por aqui. Beijo, Lu!

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  11. Ai, Matheus!
    É mesmo... A Natalie Lamour... Insensata! rsrss
    Beijão!

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