sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

SEX-APPEAL?

O ônibus estava lotado e o calor a fazia suar.
Eu a observava desde a passagem trinfal pela roleta. Um palmo de short, meio de blusa. Sutiã nadador quase branco totalmente à mostra, blusa preta com finas alças que, por sinal, não acompanhavam o design da lingerie. Saltos bem altos, cor rosa ciclete. Rosto maquiado, cabelos bem chapados. Sorriso parcialmente destruído por cáries frontais. Bijouterias chamativas nas orelhas e braços. Nas costas, uma tatuagem mal desenhada, quase caseira, ajudava a compor aquela exuberância humana.
Ela era do tamanho GG e vestia um manequim PP. Os seios à mostra, claro. A barriga, também nua, pendurava-se sobre o cós do short. Ali, naquela região abdominal, um adereço que se assemelhava a uma partícula de purpurina metálica surgia e ressurgia de acordo com os movimentos de seu corpo. Um piercing à espera de resgate - sarcasticamente, eu pensava.
Ela estava em pé, próxima ao banco onde estava sentado um rapaz de, aparentemente, 25 anos. A cada curva do ônibus, ela encostava nele. A cena causava-me desconforto e vergonha, sensação esta explícita também nos olhos da vítima. Ela sorria pra ele e erguia o short. Ele se esquivava e suava.
- Aaai! Está balançano, né? - desculpava-se, passando as mãos nas coxas cobertas por grossos pelos descoloridos.
O celular vibra e, obviamente, não poderia estar em outro lugar. Acomodava-se entre os seios, moda Larissa Riquelme.
É na mesma hora em que o rapaz aproveita para sair de perto de toda aquela personificação de sensualidade. Assustado, foge secando o rosto com uma toalhinha. Até achei graça, confesso.
Pelo papo, a ligação já era aguardada. Alguém que a esperaria em seu destino.
A auto-descrição não era nada confidencial:
- Ah, bebê! Eu estou com aquela blusinha preta - a do decote, sabe? -, um shortinho jeans. Por baixo eu não posso falar, né? no ônibus.
As pessoas entreolhavam-se pasmas. Ela não economizava no tom de voz. Eu só registrava.
Abaixei a cabeça quando ouvi a despedida:
- Você, também, amor, deve estar lindo como sempre. Hoje eu acabo com você.
Quanto delicadeza! - escapou de minha boca.
Como toda aquela beldade poderia despertar algum prazer em um homem dotado de suas faculdades mentais normais?
Aquele conjunto fechado de vulgaridade, depravação e relaxo causou-me entranhamento. E chamou todos à atenção.
De sexy, passou longe. Atraente? Só para o "bebê" do outro lado da linha.

3 comentários:

  1. rsrsrs
    Muito boa sua crônica! A riqueza de detalhes na descrição é fantástica.
    bjs

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  2. Hehehe GREAT, Lu!

    Rolei: "uma partícula de purpurina metálica surgia e ressurgia de acordo com os movimentos de seu corpo. Um piercing à espera de resgate - sarcasticamente, eu pensava".

    Beijos.

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  3. Valeu, Matheus!
    A partícula metálica foi pra judiar mesmo... rs
    Bjs

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