sexta-feira, 20 de julho de 2012

AI, SAÚDE PÚBLICA, ASSIM VOCÊ ME MATA...

Saúde Pública,
Não é só a mim que a senhora vai matar. Vai matar também meu próximo e minha nação.

Com 91 anos, uma idosa, pensionista, não consegue pagar convênio médico. Concorda?
Pois é... Então, resta a rede pública.
Lá vai ela, firme para a próxima consulta. 
Naquele dia, o agendamento era para 12 horas. Quinze minutos antes do horário ela já estava lá, acompanhada pela filha.
A sala de espera, ou melhor, o salão de espera - enorme por sinal - apresentava-se quase vazio.
- Que bom! - exclamou meu coração aliviado.
Tomo do bolso um caderninho e uma caneta. Reinicio um escrito interrompido.
Enquanto os minutos passam, registro meus pensamentos. Levanto o olhar a cada frase desenhada no papel. Pessoas não param de chegar. Ao perceber o salão já lotado, cesso minha atividade, guardo meu caderninho e ponho-me a fazer o que mais gosto: observar.
Crianças, mulheres grávidas, jovens, idosos, incapazes. Tipos diferentes se misturam e aguardam sua vez de consultar. Pressuponho que todas eram consultas previamente agendadas.
Olho para o relógio, ouço ao meu lado:
- Que horas são, moça? - um senhorzinho de bengala.
- Meio-dia e trinta e cinco - respondo preocupada.
- Obrigado.
- Por nada, senhor.
Olho para aquela senhora e me aproximo.
- Cansada? - pergunto.
- Não, só um pouco de dor na coluna. Você sabe, né, nessa idade não dá pra ficar muito tempo sentada...
Eu podia sentir aquela limitação. 91 anos enfrentando as dores e as delícias dessa vida não é pra qualquer um...
Olhando ao meu redor, vejo pessoas bem mais jovens que ela, mas ainda muito mais limitadas fisicamente e, o mais triste, sozinhas.
O salão repleto. Clamores, fofocas e conversas paralelas se misturavam ao funk tocado no celular de jovens. O fastidioso hibridismo de sons não permitia que eu me concentrasse nem na leitura do closed caption da TV posicionada na parede.
Volto, então, toda minha atenção às atendentes que já me incomodavam por, de minuto em minuto, passarem de uma porta a outra, incessantemente. Passo a estudá-las em todos os aspectos.
Jalecos mal cuidados, cabelos mal penteados, sapatos levemente imundos e uma transparente antipatia. Assim se apresentavam aquelas "profissionais" da saúde. Não se via ali um sorriso espontâneo capaz de direcionar um "oi" àqueles corações fragilizados por tantos "ais".
Segurei-me para não chegar a uma delas para perguntar se aceitava minha ajuda para levantar os pés ao caminhar com suas sandálias rasteirinhas da moda.
Telefones berravam. Ora eu sentia vontade de atender, ora de xingar o/a não-sei-quem pela falta de compromisso.
- Que horas são, moça? - pergunta o senhor.
- Uma hora e meia. - respondi.
Foi exatamente a hora de início dos atendimentos.
Aquela senhora, minha avó, pela idade, foi uma das primeiras.
Entrou uma e trinta e cinco e saiu uma de quarenta e dois. Consulta express. O oposto da eficiência do atendimento.
Eu ainda permaneci ali por algumas horas. Duas horas precisamente. Não pude esperar mais porque eu estava muito apertada para fazer xixi e o único banheiro do local estava ocupado; e uma fila - parecida com a do SUS - aguardava do lado de fora para utilizá-lo.

Declaro, saúde pública, que senti muita vergonha da senhora.
Não pude fazer nada para ajudar.
Aquele senhor, preocupado com a hora, e o restante do salão ainda permaneceram lá.

5 comentários:

  1. Lu, como sempre, sua observação é a mais puracrealidade. Neste caso, fico mto triste com a verdade aqui deslumbrada. Enquanto os hospitais fazem grave, pessoas aguardam horas pelo atendimento e gestantes são atendidas em colchões, no chão, em Maceió, por exemplo, estádios maravilhosos vem sendo propostos e dinheiro certamente da população vem sendo desviado. Não sou contra os jogos olímpicos e nem contra a copa. Pelo contrário, é fundamental termos estas atividades na nossa vida, mas daí o Brasil, um país comprovadamente corrupto e de precárias condições de vida, de saneamento básico, de saúde ser sede.... Ah... Como pudemos chegar a isso minha amiga? Como?

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    1. Como pudemos chegar a isso?
      Existe uma série de fatores, dentre eles brasileiros que vendem seus votos ou simplesmente votam de forma inconsciente, mantendo, assim, sempre aqueles corruptos no poder...
      A inversão de valores presente em nossa sociedade é uma outra questão que me envergonha...
      Chega a desanimar!
      Investe-se na aparência do Brasil, esquece-se da essência e o povão bate palmas de pé...

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  2. Que triste realidade, minha amiga...
    Um abraço.

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  3. Estas são as poucas realidades que conhecemos. Se formos fazer um levantamento o resultado e por deveras assustador...
    Bem, as eleições estão chegando e é hora de se fazer valer os direitos e não vender os votos, pois parte desses problemas são frutos das vendas de votos que acabam por colocar gente desonesta no poder...
    Abraços

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