Não, não será talvez!
As promessas de ano novo são infindáveis. As
palavras bonitas, os versinhos motivacionais, os desejos de uma vida diferente,
a superstição ao vestir-se com as cores que supostamente darão sorte, a preparação
para a tão esperada virada... Só que, sai ano e entra ano, as novidades não são
notáveis.
Estamos no quinto dia do ano novo. Não fosse o
calendário, não conseguiríamos nos orientar, afinal, as notícias não mudaram. Assaltos,
assassinatos, balas perdidas, mortes de inocentes, mortes no trânsito,
escândalos na política. Permanecem inabaláveis os “mimimis” nas redes sociais.
As mesmas intrigas, a mesma disseminação da ignorância, as mesmas hashtags. Os mesmos reprodutores das
inverdades midiáticas, a mesma necessidade de autoafirmação diante do mundo e a
de ter sempre razão. A vida online em
detrimento da vida offline, as mesmas
agressões verbais, a mesma falta de humanidade, a mesma ansiedade pela chegada
da sexta-feira. Quiçá as mesmas dores, as mesmas decepções, as mesmas lágrimas.
O mesmo egoísmo, a mesma intolerância, o mesmo preconceito.
Bem... Longe de mim ser pessimista ou tecer um
texto de autoajuda. Prefiro acreditar que sou realista, pois mudar do ano ímpar
pro ano par – amo anos pares! – não vai fazer com que a vida mude da água pro
vinho. É como querer ser bem-sucedido na vida sem trabalhar, sentado no sofá o
dia todo, se empanturrando de carboidratos e assistindo Netflix. Como é que se
quer ter uma vida diferente se o ser humano se recusa a evoluir como ser
humano? Como é que se celebra uma vida nova se as atitudes são velhas?
Gente, para!
Olha só um exemplo simples: ontem pela manhã
(04/01/18), assistindo a um telejornal matinal, vi que uma auditoria da Controladoria
Geral da União (CGU) constatou, nos benefícios do programa social Bolsa Família,
uma fraude em aproximadamente 350 mil cadastros. De acordo com o relatório da
citada Controladoria, o governo pagou indevidamente cerca de R$ 1,4 bilhão a
pessoas que não tinham direito ao benefício. Quase nada, né? Ei, Brasilzão
velho!
Aí eu me perguntei: investigação veio à tona de
novo agora por quê, hein? Sempre houve suspeita de fraude nesses programas, mas
este ano é ano de eleição. Os justiceiros querem mostrar serviço. Sério que querem
que eu acredite que eles também são enganados, que não sabem desses cadastros
indevidos e que muita dessa “brava gente brasileira” recebe o benefício
injustamente? É tanta palhaçada que sinto vergonha alheia.
A renda per
capita precisa ser de 170 reais pra se ter direito a esse tal benefício, no
entanto, há famílias que recebem quase 2 mil reais por pessoa, e são
cadastradas no programa. Famílias estas, algumas de funcionários públicos
(muitos brasilienses, certeza), com casas próprias, com carros de luxo. Triste,
não? Aí eu me questiono de novo? Pra que tirar o direito de quem realmente
precisa? Pra que enganar a pátria tão amada? Não veem que o país já está na
lama? Obviamente muitas dessas famílias são as que gritam nas ruas “fora,
fulano”, “fora, ciclano”, as mesmas que põem textões moralistas sobre política
na rede social. Ah, me poupem de tanta hipocrisia!
Que chefes de famílias são estes? Que tipo de
brasileiro é este? Que exemplos são para os filhos? Claro... É a famosa
história: todo mundo faz, eu também vou fazer; meu vizinho não precisa e tem
direito, eu também quero ter.
Que raio de “todo mundo” é esse? Eu não faço parte
desse “todo mundo”, graças a Deus! Deve ser por isso que me sinto cada vez mais
deslocada nesse país. Sei que você que está lendo aí já deve ter se sentido
assim em algum momento da vida.
Qual vida nova se almeja, gente? Vai chegar 2080 –
se Deus quiser estarei descansando na vida eterna – e as promessas estarão
sendo renovadas em vão ano a ano,
caso a mudança não comece por cada um.
Bom... este não era o texto ideal para o início de
um novo ano, mas tive a necessidade de externar minha aflição ao assistir, ler e
ouvir, de novo, como em toda virada, a mesma frase dita da boca pra fora: “ano
novo, vida nova”.
Enquanto não se tomar consciência de que são as
atitudes que transformarão a vida, a promessa nunca será real. O que faz o novo
não é o que vem de fora, é o que está no coração, o que sai do coração. Cada
pessoa precisa reencontrar, a cada ano, sua própria humanidade. Despir-se
daquilo que julga correto só pra si e enxergar um pouco além dos olhos. Lançar
um olhar de amor ao próximo e agradecer sempre. É bíblico isso.
O ano é novo, sim. O tempo não para. Mas a vida
nova, meus amigos... Ah, só depende de nós! Depende de uma postura nova, de um jeito
novo de olhar, de um propósito novo, de atitudes novas e, claro, de uma fé mais
amadurecida – não de simpatias. O ano novo vai ser melhor se puder contar com
uma versão melhor de nós.
Eu vou continuar aqui tentando cultivar em mim a
esperança, pois tenho fé de que ainda verei um mundo novo e vários anos com
vidas renovadas de fato.
nossa amo seus textos
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