sexta-feira, 20 de novembro de 2009

YES, EVERYBODY CAN!

Há pouco mais de um ano, Barack Hussein OBAMA, negro, era eleito presidente da considerada matriz mundial da discriminação e preconceito raciais, os Estados Unidos da América.
De início parecia incoerente um negro, que há alguns anos nem direito ao voto possuía, chegar a um dos cargos mais - ou até mesmo o mais - almejado do mundo.
Foi assim: 4 de novembro de 2008 ficou marcado na história como o dia em que o mundo inteiro ficou surpreso com a vitória do candidato afrodescentente.
Estrategista, inteligente, excelente orador, elegantíssimo - a mulherada que o diga - e muito enfático ao proclamar na campanha o famoso "YES, WE CAN", Obama provou que a cor da pele não é barreira intransponível na Terra onde o sol nasce para todos e que é possível atingir a igualdade prevista na lei quando se tem força de vontade, caráter e capacidade. Sua campanha não se baseou em questões raciais e sua conquista foi um passo relevante em relação ao princípio de igualdade. Lavou a alma de muita gente, que torceu e se contagiou com seu espírito de luta, e calou a boca de tantas outras, de todas as etnias, que acreditavam que o democrata negro não era a esperança para a nação americana que vivia o pior momento de sua crise.
De modo geral, negros tiveram a autoestima resgatada.
Infelizmente, o Brasil, que tem muito mais negros, assistiu somente pela TV toda àquela festa. Nosso país ainda está um pouco distante do que foi alcançado pela sociedade norte-americana.
Qual será o motivo? Existe racismo?
Claro que existe, embora haja uma tese de que isso faça parte do passado. Há muito o que se conquistar ainda. Não se veem brancos e afrodecendentes em condições de igualdade, isso é explícito. Basta frequentar restaurantes caros, shoppings, clubes, ou buscar algum atendimento em hospitais, departamentos públicos, multinacionais. Será que a maioria, ou pelo menos a metade, dos clientes ou funcionários – diretoria, é negra? Observemos a partir de hoje, então.
A criança negra, filha da empregada, terá condições de ser exigida, lá na frente, da mesma forma que a menininha loira, filha do juiz? Naturalmente que não, pois infelizmente no ambiente em que até o ar que respiramos é capitalista, ascender socialmente requer poder aquisitivo, e alto.
Pra tudo isso, há um porquê.
O contexto histórico precisa sim ser considerado, afinal, negros abolidos não foram acolhidos assim com tanto amor pela sociedade. Convenhamos!
Assim, muito do que se vê hoje, é herança de séculos passados; por isso se fala sempre em dívida histórica. Claro que não dá para generalizar. Há negros muito bem sucedidos hoje, certamente porque tiveram mais oportunidades, aliada a vontade, e souberam utilizar disso em benefício próprio.
Não que o branco não tenha enfrentado dificuldades sociais e ainda não enfrente, no entanto a barreira do racismo ele nunca precisou encarar, pelo menos não nas mesmas circunstâncias que o negro.
Negro já sofreu discriminação racial e até hoje sofre. A desigualdade racial opera em todos os cantos e a falta de oportunidade continua sendo um problema grave, todavia, cruzar os braços e simplesmente se conformar com a triste história de seus ancestros também não resolve. Certamente o passado deve ser rememorado, mas pelas constantes lutas, que inspiram e dão forças para lutas e conquistas cada vez mais marcantes para a atualidade. Apoiar-se na cor da pele não funciona. Se assim fosse, o presidente da maior potência mundial seria branco.
Os Movimentos Negros, que atribuem ao Estado a responsabilidade histórica de compensar danos causados aos negros, e consequentemente aos seus descendentes, em especial pelo tipo de abolição que lhes foi concedido, devem ainda e principalmente, militarem pela conscientização e envolvimento, não só da comunidade negra, mas de toda sociedade. O passado de escravidão não pertence somente às pessoas cuja melanina da pele é mais acentuada, mas também a todos os que fazem parte desta nação. Quem sabe o valor igualdade não passe a ser praticado livremente, como os americanos mostraram!
A trajetória do negro deve ser fundamentada em sua vontade persistente, que o fará buscar oportunidades em todas as esferas. Além do mais, deve ter orgulho de suas raízes e valorizar sua beleza, não vestindo uma camiseta “100% negro” ou causando conflitos, mas sendo consciente de um passado responsável até pela economia da nação em que vive.
A luta pela igualdade na humanidade, enfim, deve ser de todos; pacífica e contínua. Ninguém é melhor do que ninguém e nada é impossível. Todo mundo pode, independente da cor da pele.
Obama evidenciou que brancos e negros podem se unir e constituírem uma só nação.

"Neste dia, estamos aqui reunidos porque escolhemos a esperança em lugar do medo, a unidade de propósito em lugar do conflito e da discórdia."
Trecho do primeiro discurso de Obama, presidente dos EUA e Prêmio Nobel da Paz 2009

5 comentários:

  1. "O passado de escravidão não pertence somente às pessoas cuja melanina da pele é mais acentuada, mas também a todos os que fazem parte desta nação. Quem sabe o valor igualdade não passe a ser praticado livremente, como os americanos mostraram!"
    Essa passagem é brilhante... concordo totalmente com o você disse nela. A melhor forma de cobater o racismo e dizer por todos os meios possíveis que as raças foram criadas no passado por circunstâncias diversas e que hoje se sabe que as diferenças maiores entre os povos são culturais e não raciais.
    A eleição do presidente Obama vai ser um ponto muito positivo na luta contra o racismo, porém sempre é bom lembrar que ele deve ser julgado pelos acertos e erros que cometer. No brasil tivemos o exemplo do Celso Pitta que poderia ter se tornado um lider de expressão ,mas uma vez eleito se mostrou não ser confiável para tanto.
    Muito bom o texto!
    Abraço Lucimara

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  2. Concordo plenamente, Jorge.
    Obama, como qualquer membro atuante da política, deve sim ser julgado pelos acertos e erros. Esperamos que muito mais pelos acertos, afinal, mostrando-se tão disciplinado na campanha, ganhou a credibilidade de brancos e negros, que viram nele esperanças de mudanças.
    A vitória não acabou e não acabará facilmente com o racismo, mas foi um marco de igualdade...
    Quanto a Celso Pitta, lamentável... Muito boa sua lembrança.
    Obrigada, Jorge!

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  3. A eleição do presidente Obama é positivo do ponto de vista meritocrático, por se tratar de um homem inteligente e de princípios mais elevados que seu antecessor. No entanto, não é - ou não deveria ser - positivo do ponto de vista racial. Pois essas questões já deveriam ser irrelevantes. Mas não são, infelizmente. Com o passado desastroso do povo negro frente à submissão histórica de sua cultura e seu povo, fica difícil desconsiderar o fato de que um homem negro ascendeu ao poder (nos Estados Unidos). Deveria ser apenas um pequeno detalhe, mas não é infelizmente. Ainda nos tempos atuais sofremos com a herança ideológica dos tempos sombrios da escravidão, e, por esse motivo, Obama, como presidente, representa um grande passo, um grande avanço na construção de um futuro sem desigualdades raciais.

    Temos que ajudar nossa sociedade (brasileira) a caminhar para uma nova mentalidade política mais nobre do que as considerações superficiais que hoje são usadas como parâmetros de avaliação: esquecer que existem diferenças de cor, de raça, de credo, e lembrar que existe critérios mais fascinantes de diferenciação: mérito! Inteligência! Caráter! Esse sim são as medidas mais justas de se consagrar um líder.

    Grande abraço!

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  4. "O passado de escravidão não pertence somente às pessoas cuja melanina da pele é mais acentuada, mas também a todos os que fazem parte desta nação. Quem sabe o valor igualdade não passe a ser praticado livremente, como os americanos mostraram!"

    Não acho que a eleição de Obama seja necessariamente uma demonstração de igualdade racial. Talvez seja um passo na direção desse objetivo.

    Gostaria, no entanto, de destacar que a passagem é brilhante!

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  5. Obrigada, Paulo...
    O fato de os Estados Unidos terem elegido um negro foi sim interpretado como um DIFERENCIAL pelo mundo todo, infelizmente.
    O mais importante disso é que foi um ato praticado livremente, como menciono. E, lamentavelmente, nosso país ainda está muito longe dessa realidade...
    Por que será?!

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