sexta-feira, 21 de maio de 2010

PITY E O LEÃO

Pity era um ratinho muito bem humorado. Pela manhã deixava a floresta onde morava e ia para a cidade grande em busca de alimento para sua família. Era inevitável não contagiado ser por sua alegria. O animalzinho era malabarista.
Na mesma cidade, morava uma família de leões cuja rotina era frenética. Ao acordar, o chefe da casa chamava os filhotes e os levava para a escola. Dali em diante, seu tempo seria cronometrado, segundo por segundo. Quase nunca parava para conversar com os filhos ou discutir a relação com a patroa.
Certo dia, estava o leão em seu carro, último modelo, quando foi surpreendido por Pity:
- Bom dia, Senhor Leão?! – fala o ratinho.
Pity tentava equilibrar os malabares. Era verdadeiro um artista de rua.
- Suma da minha frente, seu rato de esgoto! – esbravejou o leão.
- Calma, cara! Não lembra de mim? Eu ainda moro na floresta, diz Pity, tentando apaziguar a situação.
- Não lembro de você. Saia da minha frente senão te estrangulo!
Sem entender o porquê de tanta brutalidade, o ratinho sai e continua o trabalho. Sempre muito alegre e dono de uma paz invejável.
Na manhã seguinte, a cena se repetiu.
Novamente o ratinho aborda o leão. Dessa vez, pula sobre seu carro:
- Bom dia, Senhor Leão! – cantarola Pity.
- Pela última vez... NUNCA MAIS APAREÇA NA MINHA FRENTE! Se eu perder meu vôo, acabo com sua vida – urra o Leão, inconformado.
- Que pena! Eu esperava que relembrasse aquela época em que éramos todos felizes lá na floresta. Quando não precisávamos viver como humanos para sobreviver – lamenta Pity lacrimejando.
- Não me venha com sermões, seu babaca. Você nunca foi meu amigo. Mal lembro de você. Aliás, tento nem recordar daquela época em que eu mendigava comida ou tinha que caçar meu alimento.
- É uma lástima, senhor Leão... Que decepção! Decepção também é saber que o senhor não vai perder seu voo, mas vai perder a chance de voltar a ser meu amigo e a oportunidade de reencontrar sua família – conclui o ratinho. Essa vida de loucos não pertence a você.
Pity se inclinou a uma profunda tristeza. Como o leão poderia ter esquecido dele?! Foram realmente amigos. Como ele mudou, pensava. Quanta grosseria, quanta pressa, quanto stress!
O ratinho permaneceu pensativo frente ao Leão, lembrando da época em que brincaram juntos, caçavam e até organizavam a Festa da Alegria que acontecia todos os anos na floresta, quando, de repente, o celular do “Rei da Selva” toca. Atrasado, sai em disparada e avança o sinal vermelho. Segundos depois, bate de frente com um caminhão e morre. Morre aquele que já estava morto em vida.
Pity acompanhou a cena. Seu sorriso desfez-se em uma lágrima.

Embora não tenha ficado tão curta assim, minha narrativa de hoje é uma fábula. Foi escrita há alguns anos, não me lembro precisamente quando.
Estava aqui perdida entre meus escritos e hoje eu a encontrei para compartilhar com vocês.
Gosto das fábulas porque são de natureza simbólica e, como bem define La Fontaine (grande fabulista - séc. XVII), é uma narrativa que, sob o véu da ficção, guarda uma moralidade.


ESCREVA AQUI SUA MORAL, PARTICIPE!

10 comentários:

  1. É sempre assim aqui no meu pais os leãos que sobem na vida ate!! esquecem da familia e nos os pety so olhamos.,.,.,gostei da fábula.,.,.

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  2. Quem quer viver depressa não "vive"... gasta sua vida!
    abs

    ps: gostei de sua fábula. felicitações

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  3. Belo texto, Lucimara. Bela fábula. Realmente, as fábulas, assim como as parábolas, trazem um ensinamento, uma moral da estória que tem aplicação na atualidade e em qualquer tempo. Também gosto muito. Quando puder leia o texto que escrevi e postei no meu blog, aos 18 de março, sob o título "A revolução dos bichos". Acredito que vá gostar. Desejo-lhe um ótimo sábado, um bom final de semana, beijos no seu coração ;)
    http://arslitterayelizus.blogspot.com

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  4. Adorei!!!
    Realmente, sempre no final, tem "a moral da história".

    Parabéns!

    Um grande abraço.

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  5. Gosto de posts que nos levam a refletir sobre nossas atitudes... principalmente daqueles que nos fazem sentir a necessidade de mudar, pra melhor!
    Linda essa fábula!
    As vezes, na correria do dia-a-dia, para atendermos a todos os compromissos, esquecemos de gestos simples e atenciosos para com os outros. Se passarmos a notar o outro e lhe dermos a devida atenção, veremos a diferença... Além de aprendermos muito nas trocas, estaremos caminhando em direção a um mundo melhor!
    Aproveitando a oportunidade, informo que recebi no meu blog um desafio interessante, que aproxima as pessoas, fazendo com que nos conheçam melhor; é um MEME... Indiquei seu nome por lá, no post do dia 21/05. Fique a vontade quanto a sugestão do uso do mesmo!
    Um grande abraço!

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  6. Querida amiga.

    Fábulas tem sempre lições preciosas.
    Uma vez escritas,
    sobrevivem ao tempo,
    e assim sempre ecoam no coração de alguém,
    encontrando deste modo,
    sua eternidade.
    Muito bonita a sua fábula,
    e a sua preciosa lição.

    Que haja sempre em
    teu coração espaço
    para os sonhos.

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  7. Obrigada, meus queridos leitores!
    É muito gratificante sentir a presença de vocês aqui em meu espaço.
    Beijinho no coração de cada um.

    Claudia,
    Não sei muito bem como funciona essa questão dos selinhos (rsrsrs), mas fiquei muito, muito feliz de ver meu nominho lá, com indicação do meu blog. Obrigada de coração.

    Até o próximo post!

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  8. Que gostoso! Há muito tempo que não lia uma fábula. Procuro sempre viver como o ratinho para não ter que brigar com os leões.
    Gostei, Lucimara!
    beijão

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  9. Lucimara.

    Fiz um passeio pelo seu blog e gostei do que li. O "Escrever é," nos dá uma indicação da delicadeza da sua alma...Voltarei. Bjs

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  10. Lucimara.

    Fiz um passeio pelo seu blog e gostei do que li. O "Escrever é," nos dá uma indicação da delicadeza da sua alma...Voltarei. Bjs

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