EU JURO: É VERDADE!

Estive olhando alguns perfis em uma dessas redes de relacionamento e percebi que há um defeito nas pessoas abominado por muitos: a mentira.
Não cabe a esta que vos escreve, no entanto, tentar explicá-la. A sociedade, a igreja, a psicologia, psiquiatria ou filosofia que se incumbam desta tarefa.
Existe o mentiroso safado. Esse aí tropeça nas próprias pernas curtas e cai quando menos espera.
Mentiroso "bom" mesmo é aquele divertido. Ah, esse sim rende história.
É atrevido demais. Seus contos são cada vez mais cheios de recursos, de drama, de inovações. A criatividade é dessemelhante e sua fama se intensifica à medida em que vai se aperfeiçoando; o processo é de sucessivo treino. Ele age sem maldade e busca apenas por companhias que possam simplesmente ouvi-los ou conhecer seus personagens. É questão de necessidade, satisfação do ego ou costume. Só quer status e ficar por baixo não é seu propósito.
Os causos narrados e incrementados pelos pormenores mais extraordinários configurariam fantásticos livros ou até telenovelas de qualidade. Talento sobra.
Quando me deparo com um desses, fico ali, atenta, estudando cada ação, cada palavra, cada gesto, cada emoção vivida no momento do historiar.
Se você fala que conheceu um famoso ator de hollywood, o mentiroso ostenta o almoço com o cara - quando não fala também do jantar. Daí desencadeia como foi o bate-papo e a descoberta do parentesco no final da conversa.
Se em sua última viagem aérea você sofreu com uma turbulência, ele jura que quando viajou para o exterior, o avião caiu e ele foi o único sobrevivente. Graças a Deus - completa.
Por tudo o que você passou, ele passou, mas com dois ou três graus a mais de intensidade. Você foi mordido por cachorro, ele por cavalo. Até hoje, você namorou cinco pessoas na vida, ele seis - ao mesmo tempo; e por aí se perde num deleitoso mundo imaginário, sem aumentar ou inventar um ponto no conto.
Ainda assim, o mentiroso divertido se difere positivamente do maldoso, pois ele te olha nos olhos, parece continuamente seguro e nem fica vermelho. Sorridente, bem humorado e bem relaxado, aquela mentirazinha vem logo pela manhã da segunda-feira ao chegar para o labor:
- Bom dia! Nossa... Ô final de semana difícil!!! Fiz o parto da vaca da fazenda do meu pai. Você acredita que nasceram quadrigêmeos?
Você entra na onda, acha graça e o estimula querendo colher os detalhes - mesmo sabendo que o fulano já havia falado em outra ocasião da trágica morte do pai. Vai dando corda, ele agarra e vai puxando, puxando... Uma maravilha de narrativa! A fazenda? Você nunca saberá aonde fica e os ilusórios bezerrinhos nunca terá a honra de conhecer.
A gente acaba não tendo coragem de tentar provar o contrário para não criar inimizade. Gostando de ser ouvido, ele segue treinando e melhorando dia após dia. As conversas são descontraídas e o riso procede da espantosa capacidade de esforço mental e extrema desenvoltura e convicção na arte de contar.

É... Mentirosos também são artistas. Pode acreditar!

Eles divertem bastante e, sobre suas estórias, todos acumulam histórias reais.