CANSEI DE INUTILIDADE PÚBLICA

Quando a temporada revolta chega é hora de exacerbar todo qualquer tipo de emoção contida. Nada melhor do que escrever e dividir com aqueles que compartilham dos mesmos pensamentos, mas que, por um motivo ou outro, não torna pública essa inquietude.
Por sorte, esta maravilhosa rede mundial de computadores interconectados e esse espaço que eventualmente você visita permitem que eu faça isso mais uma vez. E é assim que lanço aqui mais uma manifestação de meu revoltoso estado.
Há tempos não abro todos os meus e-mails. Indignei-me.
Gente, não dá!
De vinte e-mails recebidos por dia, salvo uns dois – quase sempre uma resposta do que eu já aguardava há uma semana.
Limpo a caixa de entrada uma vez por mês. Sabem como? Seleciono as mensagens não lidas por remetente. Depois leio os assuntos. Às vezes, de uma página seleciono umas três, que leio naquele tempinho livre. O resto? Lixeira.
Passei a proceder de tal forma porque tem gente que não se toca. Não sei onde arruma tanta porcaria pra disseminar. Que loucura é essa?
Ou fui eu quem enlouqueci?
Acho que eu envelheci, isso sim.
Bom, mas eu posso me defender.
Meu gosto pelo sexo oposto está mais do que definido. Eu não preciso que homens bombados cheguem nus de Power Point até a minha caixa de entrada para despertar em mim algum desejo.
Sinceramente não careço que Deus chegue até mim por meio eletrônico dez vezes por dia. Prefiro enxergá-lo e senti-lo nas pessoas, em seus atos, em suas palavras, em seu modo de ser. Penso que seja mais sensato. Certo dia recebi mensagem sobre Deus vinda de um ser que se diz ateu. Aí pensei: será que ele mandou porque lá afirmava que quem não encaminhasse seria vítima de uma tragédia? Achei aquilo irrisório. Nem sei se a pessoa se lembra disso. Que egoísmo!
Mensagens edificantes e de autoajuda ajudam, mas quando em demasia torram o restinho de paciência que resta. Basta a pancada de propagandas de hipermercados, lojas virtuais e “você ganhou!”. Sou mais adepta às piadas do malicioso Joãozinho. São sempre atualizadas, curtas e me fazem rir. Elas vão de Joãozinho e Ulisses Guimarães a Joãozinho e Dilma Roussef. Critique quem quiser.
Aquelas musiquinhas de fundo das lições de vida - em visão puramente simplista - ou textos de “autoria desconhecida” me matam. Aos últimos são sempre atribuídos um nome famoso como Ghandi, Chico Xavier, Madre Teresa de Calcutá, Veríssimo, Arnaldo Jabor. É, no mínimo, de tirar meu humor – e olha que isso é difícil.
Ah, as correntes... Recuso-me a preencher tais reticências. No mesmo nível estão as escritas adornadas pelos erros de português. Nem termino de ler! Terrível mesmo é quando estes partem de profissionais da educação – sinto vergonha alheia. Às vezes, ainda, quando a essência da mensagem é boa, corrijo e direciono para um destinatário ou outro.
Os e-mails de utilidade pública até que são bons, isso quando o remetente tem o cuidado de apagar os remetentes anteriores. Caso contrário, só a lista de pessoas a quem já foi encaminhado se torna quatro vezes maior do que a própria mensagem. Um saco pra gente se encontrar.
Leitor, você pode pensar que sou uma infeliz quando escrevo desta forma ou está, neste momento, simplesmente se identificando. Arrisco a segunda opção.
Eu não vou dizer que nunca encaminhei porcarias. Já fiz isso – e faço de vez em quando -, mas seleciono as boas porcarias, digo, os bons textos, inteligentes, e escolho a dedo - ou a clique - os meus destinatários. Vez ou outra envio alguma piadinha tosca do tipo Joãozinho pelo mesmo motivo acima descrito. Não raro, peço que não passem adiante. É triste alastrar certas inutilidades públicas.
Triste também é saber que muitas pessoas preferem utilizar nosso tão benéfico e prático sistema global de redes interligadas de computadores para espalhar lixo e arrebanhar pessoas que aceitam fazer o mesmo enquanto poderiam promover cultura e educação.
Francamente... Eu cansei!