sexta-feira, 6 de julho de 2012

EFEMERIDADE

Hoje estou aqui para expressar um pouco da sensação causada pela vitória do Corinthians, na última quarta-feira, dia 4 de julho de 2012.

Ah, sim! Acontecimento histórico mesmo. O clube tem mais de 100 anos e ainda faltava esse título. Venceu, e por merecimento, sem dúvidas.

O dia pós-jogo foi um tanto quanto intolerável.  A mídia, como sempre, pouco criativa, mostrou a comemoração, nas mesmas imagens das primeiras horas da manhã até as últimas horas da noite. Um porre da pior qualidade.

- Ah, você fala isso porque não gosta de futebol – ouvi.
Muito pelo contrário. É um dos meus esportes prediletos, mas ainda sou racional demais pra suportar tamanha puxação de saco.
Dia desses aconteceu a final da Eurocopa, um torneio importante organizado pela UEFA - confederação europeia. Você, que vai ler este texto depois de dia, anos, décadas, séculos, esclareço que o último jogo decisivo aconteceu no dia 1 de julho de 2012. A Espanha mostrou um bom futebol e conquistou o título ao derrotar a Itália por 4 a 0 no Estádio Olímpico de Kiev, na Ucrânia. O terceiro deles. A fiesta foi bonita e os espanhóis ficaram muy felizes, mas foi uma alegria efêmera, superficial.
Os noticiários da segunda-feira pós-vitória traziam, de maneira bem enfática, manchetes que anunciavam ao mundo que a euforia da final da Euro fizeram os espanhóis esquecerem, momentaneamente, a crise por que passam. Bem momentaneamente, eu completaria. Jogaram para escanteio o índice de desemprego e demais efeitos avassaladores da turbulência dos mercados que assolam o país.
Os quatro gols, a gritaria, a taça... Bacana. Mas e daí? E o maior índice de desemprego da União Europeia?
Aqui, neste país que tanto amo, não é diferente. Se não for pior...
Problemas?
- Ah, gente, vamos abstrair!!! A tônica do momento é a comemoração.
- Quem ganhou mesmo? – o torcedor  “perdido” pergunta.
- Ah, aquele da camiseta preta... Não... Vermelha! Ah... Não importa. Vem comemorar! – alguém responde.
É a cultura dos povos.
A festa da vitória é belíssima. A alegria contagiante. Alegria esta que toma conta de corpos que, de um instante pro outro, são consumidos por um espírito mau que os levam a matar, brigar, violar patrimônios públicos e particulares, e por aí vai.
A verdade é que hoje se ganha, amanhã se perde. Faz parte do jogo. E há quem não aceite essa verdade.
Desse mesmo jogo faz parte a responsabilidade de cidadão.
- Você fala isso porque não gosta de futebol!  – ouço de novo. E ainda é revoltada! – completam.
HA-HA-HA.
- Revoltada eu? Não, bem. Falo assim porque tenho outros valores.
Hoje, diria que é indiferente pra mim a vitória deste ou daquele. É bonito ver a alegria alheia, independente do time que torce. Só que eu não posso considerar um cidadão de valor e respeito um cara que vai ao campo de futebol pra assistir a um jogo depois de ter deixado a esposa no hospital pra dar à luz o primeiro filho do casal.
Não é muita inversão de valores?
Não???
Estou ficando revoltada mesmo.
- Fulano, você já fez alguma loucura só pra ver seu time jogar?
- Ah, mano... Hoje minha esposa pediu dinheiro pra comprar arroz para meus filhos. Eu só tinha o dinheiro do ingresso da final. Falei pra ela mandar os guris pra escola. O governo dá merenda, né, irmão?
Pronto. O pai se eximiu da responsabilidade de pai pra gritar pelo seu time. Algum problema? Não, não. Tem milhões de outros cidadãos para pagar a comida de seus filhos.
Você que lê e esta que vos escreve fazem parte dessa massa que se preocupa enquanto uns se divertem sem compromisso.
Ok, já falei demais. Desculpe-me!
E vamos que vamos pro Japão.
- Não! Peraí... E meu emprego?
- Ah, vamos. Depois você arruma outro.

8 comentários:

  1. Bem verdadadeiro seu texto. Temos que torcer, mas conscientes!
    Vai, timão... rs
    Um abraço.

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  2. Tantas verdades aqui...Pensam em futebol e o resto??? beijos,chica

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  3. Ótimo, Lu. Você deu a resposta que eu queria àquelas pessoas que também me disseram que sou revoltada, que não gosto de futebol etc. Os brasileiros precisam rever seus valores.
    Beijão

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  4. É dose. Triste realidade.
    Abraço, Lucimara.

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  5. Adorei Lu!
    Fazia tempo que não entrava aqui. Saudades!!!

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