domingo, 19 de junho de 2016

DESENROLAR DA QUADRILHA

Sentado em sua cama numa noite de inverno, Carlos terminava de reler uma história que escrevera há alguns anos, bem antes do tempo moderno:
"João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.”
No ápice da lucidez, parou e pôs-se a refletir, convicto desta vez:
- Espera aí! Lili amava, sim. Não se casou com J. Pinto Fernandes?
Sob a fraca luz de seu aposento, começou a rabiscar o único retalho de papel que estava ao seu alcance no momento:
Lili se casa com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história, mas há tempos estava de olho naquela elegante senhora. Soube-se por aí que esse moço queria formar família, com três varões e uma filha.
Depois de onze meses do enlace com Lili trouxeram à luz o pequeno Frankuiney. Em seguida, veio a doce Joquebedes e, mais pra frente, os gêmeos Litibenque e Achillynney.
O mais velho, aos dezoito, saiu de casa e, amando Zoneide, sobrinha-neta do João, aquele que amava Teresa antes de ir para os Estados Unidos, uniu-se em matrimônio à moderna e se mandou a um lugar desconhecido.
Joquebedes, toda meiga, não estudou e virou meretriz. Conheceu Juasine, Risoleta e Bissetriz. Com elas foi morar e seu passado fez questão de apagar.
Os gêmeos, aos quinze, começaram a namorar. Litibenque com Anaslete, Achillynney com Deusidete. Anaslete já tem barriga, John Weire está por vir. Deusidete por desgosto, já ensaia com outro fugir.
Eclésia é a garotinha que nessa história apenas passa. Joquebedes não a quis por preferir vida ordinária. A pequena Pastor Welbis rejeitou, sua origem saberá Deus onde ficou! Madre Teresa a acolheu; hoje anseia adoção por uma alma de bondoso coração.
Kiovranny, Baruel e Anaslete esperam por DNA. Não se sabe de que amor vieram a brotar.
Lili caminha desconsolada pelas ruas e agora só chora. J. Pinto Fernandes queria mesmo era ter ficado de fora. Ninguém ama ninguém.
E a história toma novo rumo agora...

Carlos, já sonolento e cansado, adormeceu com caneta e papel ao seu lado.


Texto finalista MAPA CULTURAL PAULISTA Edição 2015 - 2016

Um comentário:

Obrigada por sua visita e comentário.
Volte sempre, pois é e será sempre um prazer dividir minhas letras com você!