Sentado em sua cama numa noite
de inverno, Carlos terminava de reler uma história que escrevera há alguns
anos, bem antes do tempo moderno:
"João amava Teresa que
amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava
ninguém.”
No ápice da lucidez, parou e
pôs-se a refletir, convicto desta vez:
- Espera aí! Lili amava, sim.
Não se casou com J. Pinto Fernandes?
Sob a fraca luz de seu
aposento, começou a rabiscar o único retalho de papel que estava ao seu alcance
no momento:
Lili se casa com J. Pinto
Fernandes que não tinha entrado na história, mas há tempos estava de olho
naquela elegante senhora. Soube-se por aí que esse moço queria formar família,
com três varões e uma filha.
Depois de onze meses do
enlace com Lili trouxeram à luz o pequeno Frankuiney. Em seguida, veio a doce
Joquebedes e, mais pra frente, os gêmeos Litibenque e Achillynney.
O mais velho, aos dezoito,
saiu de casa e, amando Zoneide, sobrinha-neta do João, aquele que amava Teresa
antes de ir para os Estados Unidos, uniu-se em matrimônio à moderna e se mandou
a um lugar desconhecido.
Joquebedes, toda meiga, não
estudou e virou meretriz. Conheceu Juasine, Risoleta e Bissetriz. Com elas foi
morar e seu passado fez questão de apagar.
Os gêmeos, aos quinze,
começaram a namorar. Litibenque com Anaslete, Achillynney com Deusidete.
Anaslete já tem barriga, John Weire está por vir. Deusidete por desgosto, já
ensaia com outro fugir.
Eclésia é a garotinha que
nessa história apenas passa. Joquebedes não a quis por preferir vida ordinária.
A pequena Pastor Welbis rejeitou, sua origem saberá Deus onde ficou! Madre
Teresa a acolheu; hoje anseia adoção por uma alma de bondoso coração.
Kiovranny, Baruel e Anaslete
esperam por DNA. Não se sabe de que amor vieram a brotar.
Lili caminha desconsolada
pelas ruas e agora só chora. J. Pinto Fernandes queria mesmo era ter ficado de
fora. Ninguém ama ninguém.
E a história toma novo rumo
agora...
Carlos, já
sonolento e cansado, adormeceu com caneta e papel ao seu lado.
Texto finalista MAPA CULTURAL PAULISTA Edição 2015 - 2016
Está ficando interessante essa história. Que seja com muito amor.
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